Uma tremenda onda de amor

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Um vídeo divulgado no YouTube mostra uma criança japonesa que serve de “ponte” para outra, deixando-a caminhar sobre seu corpo. Noutro, uma cadela amamenta uma ninhada de gatos. Erasmo Carlos, 76, que acaba de lançar “Amor É Isso”, usa essas imagens para explicar o título do seu novo disco. “É impossível descrever o que é o amor com palavras, mas eu descobri que você pode fazer isso através de gestos”, afiança o músico. 

“A demonstração de afeto que está nesses vídeos foi o que inspirou todo o meu trabalho, a ternura das imagens. Quando faço shows nas cidades, eu depois tiro fotos com as pessoas e publico no Facebook, e agradeço a todos esse carinho que recebo com a frase: ‘amor é isso’. Entende o que eu quero dizer?”, questiona o Tremendão, que revela ter pensado “na voz de Zé Ramalho” ao compor a faixa-título. 

Redes. O lançamento chegou primeiro nas plataformas digitais. Antes, no último mês de dezembro, o single “Não Existe Saudade no Cosmos” (Teago Oliveira) já havia invadido as redes. Para trazer um atrativo ao disco físico, a gravadora acrescentou um lápis ao produto, convidando as pessoas para escreverem na capa a sua definição de amor. No entanto, o próprio Erasmo se mostra mais antenado com as novas tendências de comunicação. 

“Sou um cara muito atual, tenho meu canal no YouTube, Facebook e até coisas que não se usam mais. Só informo da minha vida, não bato papo com ninguém, senão não me sobra tempo para mais nada”, observa ele, que, apesar da empolgação, não deixa de ver o aspecto negativo desse tipo de interação. “É uma coisa inesgotável, infinita, elástica, a gente não sabe ainda o que vem por aí, são muitos horizontes. É maravilhoso, mas perigoso ao mesmo tempo, uso o velho ensinamento da cautela. Tenho um cuidado danado”, garante. Com seu próprio canal na rede, Erasmo começou a revelar outro lado de sua personalidade, que desembocaria no CD.

“Tudo nasceu da poesia. Conheci a Fernanda, que é professora, há oito anos. Agora, já estamos casados há dois. Na época eu mandava e-mail para ela toda semana com meus poemas, durante sete anos. Bicho, foram 111 poesias. Aí, pela primeira vez, eu resolvi musicar poesias, porque eu sempre tinha feito música e letra juntas. Então fiquei esperançoso com o fato de lidar sem obrigações com os vícios das rimas musicais”, afirma. O segundo passo foi pedir a ajuda e opinião de velhos e novos amigos. 

Com isso, o álbum passou a agregar diversos parceiros. Além de Emicida, que divide com Erasmo a faixa “Termos e Condições”, composta pela dupla, ainda figuram na ficha técnica Adriana Calcanhotto, Nando Reis, Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Samuel Rosa e Marcelo Camelo. “Eles me aprovaram de cara, deram a maior força”, orgulha-se Erasmo. O encontro com Emicida valeu ao anfitrião a oportunidade de pisar em terreno pouco explorado. Como se não bastasse, os dois assinam “Abre Alas do Verão”, inédita confirmada para o próximo CD de Gal Costa, previsto para esse ano. “Chamei o Emicida para participar do meu disco e fazer um discurso em cima da música, e como excelente rapper que é, ele mandou ver. Já declamei palavras em músicas algumas vezes, mas não com a intenção maciça de dizer que é rap. O estilo me fascina, mas não é a minha praia, deixo isso para os especialistas”, afiança. 

Primeiro intérprete a gravar Marcelo Camelo, quando lançou a música “Pra Falar de Amor”, em 2001, Erasmo criou com o antigo vocalista do Los Hermanos a trilha sonora do filme “O Casamento de Romeu e Julieta” (2005). Dessa vez, Camelo compôs para Erasmo a música “Sol da Barra”, em que participa com violão e assovios. Nando Reis foi outro a compor sozinho, com “Minha Âncora”. “Fico me perguntando como eles fizeram, devem imaginar o meu perfil artístico, e ir criando”, arrisca o entrevistado. Já Adriana recebeu o poema “Seu Sim” para musicar, e se prontificou a vir de Portugal, onde atualmente mora, só para tocar violão na faixa. 

Com o mineiro Samuel Rosa, a criação de “Novo Sentido” também foi conjunta. “Ficamos amigos desde que o Skank gravou ‘É Proibido Fumar’, mas a gente nunca tinha feito uma parceria”, informa o artista. Para completar, o cantor resgatou uma música de 1961, gravada por Tim Maia dez anos depois, e criou uma versão em português de “New Love”, alterando o título para “Novo Amor”. Com um conjunto de 12 baladas, ele atingiu o objetivo de gravar um disco de canções. “Sou um compositor, nunca fui roqueiro ou fanático por qualquer outro ritmo. Tenho influências da bossa nova, merengue, calipso, tcha tcha tcha, mambo, axé, samba-canção. Pela minha idade, tive a alegria de vivenciar o nascer de todas essas manifestações artísticas, é diferente de só pesquisar pelo Google”, destaca.