Preço baixo do gás americano afeta indústrias no Brasil

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*Indústrias do setor petroquímico, químico, cerâmica e vidro estão perdendo competitividade por conta do alto custo do gás brasileiro (Marcelo Sayão/EFE)
*Indústrias do setor petroquímico, químico, cerâmica e vidro estão perdendo competitividade por conta do alto custo do gás brasileiro (Marcelo Sayão/EFE)

Do Estadão

 
Gás brasileiro é cinco vezes mais caro, o que faz com que investimentos sejam adiados ou até movidos para outros países

Nos últimos três anos, o gás de xisto dos Estados Unidos ficou cinco vezes mais barato que o gás natural no Brasil. Com isso, a indústria brasileira está perdendo ou adiando investimentos de bilhões de dólares. Setores que têm até 35% de seus custos no gás, como o de vidro, cerâmica, petroquímico e químico, perderam competitividade, elevaram importações e migraram seus investimentos para o exterior.
A multinacional de vidros AGC decidiu há pouco mais de três anos investir numa fábrica de 800 milhões de reais em Guaratinguetá (SP). Anteriormente, a empresa tinha planos de dobrar a capacidade da fábrica, mas a ampliação foi suspensa por tempo indeterminado. Unidades da multinacional nos Estados Unidos, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Egito, onde o preço do gás é mais barato, ganharam preferência na destinação de recursos. “De lá para cá o preço do gás dobrou, o que mudou totalmente o cenário e a rentabilidade. Com certeza o preço do gás tornou a decisão de investir no Brasil muito mais difícil”, disse o presidente da AGC Vidros do Brasil, Davide Cappellino.
A também multinacional Cebrace planejou investir 1 bilhão de reais e transformar o Brasil em plataforma de exportação de vidros para a América Latina. Entretanto, a empresa estancou novas decisões de investimentos no Brasil e voltou os olhos para países como Argentina e Colômbia. O mesmo aconteceu com a Guardian, que revê investimentos. Hoje, o setor importa 35% do vidro plano, contra 10% em 2007.
“Não há novos investimentos de peso, e o futuro depende das decisões de agora. Quero ver como o setor vai estar lá para 2018”, diz o superintendente da associação setorial Abividro Lucien Belmonte, que estima, grosso modo, uma perda de até 3 bilhões de dólares na década, por causa da redução de competitividade acarretada pelo preço do gás.
Até mesmo uma fonte do governo admite a desvantagem das indústrias brasileiras com altos gastos em gás. “Todo mundo que compete no mercado internacional e que tem produção no Brasil está reclamando conosco”, disse ela.
Queda do preço nos Estados Unidos – A reviravolta no mercado aconteceu depois de uma revolução energética nos Estados Unidos, com a disseminação, nos últimos cinco anos, da técnica de fraturamento terrestre em formações de xisto. Neste curto período, o país deixou de ser um grande importador de gás e passou a ser um potencial exportador, cenário impensável em 2008.
O grande aumento na oferta fez o preço do gás americano cair de 9 dólares, naquele ano, para 1,82 dólar por milhão de BTU (unidade térmica utilizada no setor) em abril de 2012. Hoje, o preço fica entre 2,5 e 3 dólares por milhão de BTU. No Brasil, o produto está cerca de cinco vezes mais caro e custa entre 12 e 16 dólares.

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