Pesquisador do USDA faz palestra sobre Agricultura de Precisão em Cuiabá

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“Haverá um tempo em que não se falará mais em agricultura de precisão. Será somente agricultura” – a frase do pesquisador norte-americano Kenneth A Sudduth, ex-presidente da Sociedade Internacional de Agricultura de Precisão, parece paradoxal, mas não é. Ela apenas resume o que os especialistas enxergam para o futuro da agricultura, quando a utilização de ferramentas de Agricultura de Precisão (AP) se tornará não apenas corriqueira entre produtores, mas imprescindível.

“A adoção da AP está se acelerando entre os produtores”, comentou Sudduth, que classifica essa nova realidade como “ganha-ganha”, ou seja, uma situação em que todos – agricultores, meio ambiente, empresas e a sociedade em geral ganham.  O pesquisador fez uma palestra para convidados da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) e do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), em Cuiabá, nesta segunda-feira, em que apresentou um histórico da AP nos Estados Unidos e dados de trabalhos realizados pela Unidade de Missouri (EUA) do ARS (Agriculture Research Service), órgão ligado ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

As ferramentas de AP estão sendo incorporadas ao planejamento estratégico de propriedades rurais, gerando informações detalhadas e georreferenciadas, que podem contribuir para o manejo mais eficiente das áreas de cultivo de algodão e outras culturas e o uso mais racional de insumos agrícolas. Em outras palavras, a adoção de AP pode significar menos gastos com insumos (fertilizantes, defensivos, etc), mais produtividade e maior rentabilidade. Para Sudduth, a AP representa um novo paradigma, porém o pesquisador alerta para o fato de que alguns produtores até coletam dados que poderiam ser úteis na tomada de decisão, porém acabam não usando essas informações ou até perdendo.

“O acesso a informações está se tornando onipresente, mas interpretar os dados coletados e aplicá-los corretamente é um trabalho difícil, que exige dedicação. Quem vai lucrar com tudo isso? Quem compreender de que forma pode se beneficiar das ferramentas de AP”, afirmou o especialista, que veio a Mato Grosso acompanhado de Kristen Veum. Cientista de solos, Kristen trabalha na equipe de Sudduth, atuando na avaliação da qualidade do solo em agroecossistemas, desenvolvimento e refinamento de indicadores de qualidade do solo, e aplicação de tecnologia de sensor para avaliação da qualidade do solo.

Os dois norte-americanos vieram ao Brasil pela primeira vez para participar do Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão, realizado em Curitiba (PR), na semana passada.  Como tinham interesse em conhecer o sistema double crop – caracterizado pelo cultivo do algodoeiro após a colheita da soja, em uma mesma safra -, o pesquisador Ricardo Inamasu, da Embrapa Instrumentação (de São Carlos –SP), propôs ao IMAmt uma parceria para trazer os especialistas a Mato Grosso.

Eles visitaram o Centro de Treinamento e Difusão Tecnológica Ampa/IMAmt do Núcleo Regional Centro e uma usina de beneficiamento em Campo Verde, e tiveram a oportunidade de ver áreas de lavoura no percurso de carro até Cuiabá.  Sudduth disse ter ficado bastante impressionado com a realidade de Mato Grosso, que é muito diferente do sistema de produção no estado de Missouri, nos EUA, onde grande parte das lavouras é realizada em áreas irrigadas e não existe o sistema double crop.

Parceria – A palestra em Cuiabá, aberta pelo diretor executivo do IMAmt, Alvaro Salles, foi uma oportunidade para uma troca de ideias com representantes de instituição de ensino e pesquisa de Mato Grosso, como a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT); de empresas de máquinas e implementos agrícolas, e também de grupos associados à Ampa como a Sementes Petrovina, representada por seu presidente Carlos Ernesto Augustin, Amaggi e Scheffer.

A Sementes Petrovina e o Grupo Scheffer estão participando de uma pesquisa desenvolvida pelo IMAmt em parceria com a Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa, coordenada por Ricardo Inamasu, da Embrapa Instrumentação, visando o desenvolvimento de novas metodologias para a utilização de ferramentas de AP nos sistemas de produção do algodoeiro no cerrado mato-grossense. Esse trabalho está sendo realizado inicialmente em duas áreas, com 52 e 200 ha, situadas na Fazenda Farroupilha, na Serra da Petrovina, no município de Pedra Preta e na Fazenda Três Lagoas, em Sapezal.

Por meio da parceria com o IMAmt, os pesquisadores da Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa pretendem aprofundar os estudos sobre o ambiente em Mato Grosso, com a finalidade de compreender por que algumas áreas produzem mais ou menos e, com isso, potencializar o uso das ferramentas da AP em Mato Grosso.

“Hoje apenas é utilizada a ferramenta GPS para fazer mapas de produção e melhorar a qualidade do plantio. Faltam estudos no mundo inteiro sobre o uso e interpretação de imagens multiespectrais e, com isso, poder predizer eventuais problemas e suas possíveis correções no momento de desenvolvimento da cultura “, comenta Alvaro Salles.

“A agricultura de precisão não faz de um mau produtor um bom produtor, mas, certamente, contribui para tornar melhor o bom agricultor”, conclui Inamasu.