Parlamentares de 9 Estados deram R$ 104 mi à Delta Em 2011, União pagou R$ 808 mi

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Suspeita de montar uma rede de influência política com atuação em governos estaduais e no Congresso, a Delta Construções foi contemplada com R$ 104 milhões de recursos de emendas parlamentares desde 2009. O valor foi direcionado às obras da empreiteira por bancadas de nove Estados.
Mais da metade desses recursos financiou empreendimentos na área de influência do ex-diretor regional da empresa no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, acusado de envolvimento com a organização do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Os dados constam do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). Os R$ 104 milhões correspondem ao que a União empenhou (comprometeu-se a pagar) por meio de 48 emendas, todas para obras de manutenção e adequação de trechos rodoviários, tocadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Essas emendas foram apresentadas em conjunto por bancadas estaduais, estratégia que, não raro, serve para impedir a identificação do verdadeiro padrinho dos recursos. Esse tipo de emenda costuma ser liberado com prioridade pelo governo federal e geralmente escapa de cortes orçamentários.
Do volume empenhado pela União, R$ 85 milhões – equivalentes a 81% – já foram pagos ao longo dos três exercícios fiscais (2009, 2010 e 2011).
Regional. Em três Estados do Centro-Oeste, contemplados com um total de 17 emendas, os empenhos alcançaram R$ 55,4 milhões, sendo que quase a totalidade já saiu dos cofres (R$ 54,8 milhões). O montante desembolsado na região corresponde a 65% do total aplicado em todo o território nacional.
Mato Grosso do Sul recebeu pagamentos de R$ 27,8 milhões. Na sequência, vem Mato Grosso (R$ 25,4 milhões) e Goiás (R$ 2,1 milhões).
No País, a maioria das emendas que destinaram recursos às obras da Delta foi apresentada e paga na execução dos orçamentos de 2009 (R$ 27,9 milhões) e 2010 (R$ 57,1 milhões). No ano passado, constam duas, ambas para adequação de travessias urbanas na BR-153, no Tocantins, Estado em que o grupo de Cachoeira também atuava, à caça de contratos públicos.
Contudo, dos R$ 8,6 milhões empenhados em obras nesse Estado, só R$ 567 mil foram pagos.
A Delta obteve crescimento vertiginoso em negócios com o governo desde 2003, tornando-se a principal executora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Os repasses para a construtora somaram R$ 720 milhões em 2009, R$ 704 milhões em 2010 e R$ 808 milhões no ano passado. Os contratos estão concentrados no Dnit, principalmente na área de manutenção.
Inidônea. Investigações da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal apontaram irregularidades e desvios em mais de 60 obras tocadas pela Delta, o que, após o escândalo desencadeado pela Operação Monte Carlo, levou à abertura de um processo que pode declarar a empresa inidônea e proibi-la de firmar mais parcerias com o governo.
Ex-diretor da empresa no Centro-Oeste, Cláudio Abreu foi preso em 25 de abril, durante a Operação Saint-Michel, do Ministério Público do Distrito Federal, que se sucedeu à Monte Carlo. O ex-diretor da empreiteira no Sudeste, Heraldo Puccini Neto, é considerado foragido da Justiça desde então.
Já o ex-presidente da empresa, Fernando Cavendish, e o ex-diretor executivo Carlos Pacheco se afastaram após revelações sobre sua suposta proximidade com a organização de Carlinhos Cachoeira. Cavendish ainda é o principal acionista da Delta.

 

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