Com 21 anos, cuiabana surpreende e vence campeonato internacional

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Do: Midia News

Jovem já fraturou joelho duas vezes e nunca quis desistir; já participou de apenas outras tres competições

*A cuiabana Giulia Fontes de Almeida, no Mister Olympia Amador

O sonho dela era se tornar campeã de fisiculturismo. Só não imaginava que esse sonho se tornaria realidade muito mais rápido do que previa. Com apenas 21 anos, e há dois treinando para campeonatos, a cuiabana Giulia Fontes de Almeida surpreendeu a todos e ficou em 1º lugar no Mister Olympia Brazil Amador, realizado na semana passada em São Paulo (SP).

 

Estudante de Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso ( UFMT), nos últimos três meses a jovem dividiu seu tempo livre entre os estudos e a preparação para o primeiro campeonato internacional. Antes disso havia apenas participado de três – dois regionais e o nacional.

 

Em entrevista ao MidiaNews, Giulia contou como se sentiu quando ouviu seu nome anunciado como campeã internacional nas categorias “Bikini Fitness Open” e “Bikini Fitness Novice”, no qual competia com outras atletas que até então eram referências para ela.

 

“Eu nem acreditei. Gritei muito, chorei, foi uma coisa que eu não esperava. Significa que todo esforço e toda a luta valeram a pena. Porque quem vê de fora não enxerga isso. As pessoas já perguntam logo se eu tomei alguma coisa. Fui muito criticada com comentários maldosos. Mas é assim mesmo. Hoje eu só tenho a agradecer e digo sempre para as pessoas: não desistam, independente das dificuldades. Acredite no seu potencial, confie em você”, afirmou.

 

O Mister Olympia é um dos maiores campeonatos internacionais de fitness e fisiculturismo. Originário de Las Vegas (EUA), a edição de São Paulo (SP) aconteceu entre os dias 19 e 21 de outubro.

 

A competição é a mais famosa do mundo e também a maior referência para atletas de alta performance, onde nomes como o de Arnold Schwarzenegger se consagraram.

 

Campeonatos 

 

Antes de se envolver com a musculação, Giulia era jogadora de handebol, esporte pelo qual se diz apaixonada. Mas essa paixão pelo esporte precisou ser interrompida em 2014, quando ela fraturou o joelho e o médico lhe deu um ultimato.

*Giulia e o treinador Gorba Oliveira

“Tive que parar de vez. Fiquei uns quatro meses andando de muleta, usando uma tala na perna. E o médico falou que eu tinha duas opções: ou continuava [no handeboll] e com 30 anos já não ia andar mais direito, ou parava e fazia algum reforço muscular”, revelou.

 

Mesmo relutante, ela conta que então seguiu o conselho do médico e começou a fazer musculação em 2015, após ter passado por um processo de fisioterapia para melhorar o funcionamento da perna que estava lesionada.

 

Segundo ela, foi a necessidade se dedicar a algum outro esporte que fez com que iniciasse por conta própria mesmo no fisiculturismo. “Eu estava perdida, o handebol era minha vida e de repente eu tinha perdido aquilo”.

 

Giulia procurou saber mais sobre a modalidade. Então conversou com a mãe, que a apoiou. E assim, em 2017, soube pela internet sobre o primeiro concurso de que participaria, o “Estreantes”, em Lucas do Rio Verde (354 km de Cuiabá).

 

“Quando fui para Lucas, não tinha noção nenhuma. Não tinha nem biquíni, porque eu havia comprado um, mas ainda não tinha chegado. Então uma semana antes fui para a casa da minha avó em Poconé e ela fez um pra mim. Assim fui competir”, contou.

 

Lá a atleta ficou em 2º lugar, o que chamou a atenção do presidente da Federação Mato-grossense de Culturismo, Musculação e Fitness (FMCMF) Kissinger Alencastro. Ele então pediu à mãe de Giulia que o deixasse treinar sua filha para campeonatos regionais e nacionais.

 

A partir daí, Kissinger pediu que o vice-presidente da federação, Gorba Oliveira, a treinasse. E assim os dois passaram a dedicar-se para o Campeonato Estadual, onde a jovem também ficou em 2º lugar.

 

Um mês depois, em Ribeirão Preto (SP), Giulia participou do Campeonato Nacional e superou as expectativas de seu treinador, ficando em 5º lugar na categoria Biquíni.

 

“Eu mudei completamente meu corpo em um mês, minha vida mudou do avesso. Fiquei mais forte tanto fisicamente quanto mentalmente”, disse.

 

Fratura no joelho e superação

 

Antes de se consagrar pela primeira vez campeã, Giulia passou por inúmeros desafios, o mais difícil ocorreu final do ano passado, quando fraturou novamente o joelho durante a preparação para um campeonato.

 

Ela operou em janeiro deste ano e precisou parar – e fazer apenas fisioterapia – para tentar voltar aos treinamentos.

 

Nessa época, a atleta lembrou dos momentos difíceis pelos quais passou e chegou a pensar que mais uma vez teria que desistir de algo de que gostava muito.

 

“Eu já tinha começado a me preparar para competir em abril, em outro campeonato, mas foi tudo por água abaixo. Pensei que mais uma vez tinha perdido tudo, porque já foi difícil antes, quando tive que parar de jogar handebol e começar do zero. Agora mais uma vez teria que fazer o mesmo”.

 

Dessa vez, Giulia ficou um mês apenas fazendo fisioterapia e aos poucos voltou à musculação. Mas ainda desanimada, achando que não voltaria mais a competir.

 

“Eu não queria mais ir na academia, mas acabei indo todos os dias, até que vi que meu joelho começou a melhorar. Foi bem demorado o processo de aceitação de que eu tinha que passar por aquilo tudo de novo. Foi bem difícil”, contou.

 

Após muita insistência, a campeã conseguiu voltar a treinar para competir novamente três meses depois.

 

Para o seu treinador, Gorba, a persistência da jovem é exemplo para muitas que pensam em seguir algum sonho, até mesmo o do fisiculturismo.

 

Gorba contou que Giulia é a primeira atleta mulher que ele decidiu treinar, após oito anos atuando na área.

 

“Ela é uma menina de garra. Quando ouvi sua história pela primeira vez, que chegou do nada sozinha até um campeonato, com um biquíni feito pela avó, pra mim essa história foi muito marcante. E eu pensei que ela tinha sim um brilho diferente. Quando comecei a treiná-la, soube que ela era diferente”, afirmou.

 

“Ela é uma pessoa para quem você traça as metas e ela cumpre. E ela fez tudo isso em menos de dois anos. Para ser atleta de fisiculturismo, vai além daquela uma hora na academia. São as 24 horas do dia, porque a gente sabe que a alimentação e o descanso influenciam bastante no resultado final. Ela passou por um período de três meses em off, por causa da lesão no joelho, mas mantivemos a alimentação e somente após algum tempo partirmos para a musculação novamente”, contou.

 

A atleta ainda não tem patrocinadores, assim como a maioria dos esportistas mato-grossenses, e está aberta a propostas. O próximo objetivo são campeonatos internacionais, como o Arnold Classic.