Casal afogado no México se desviou da trilha permitida no mergulho

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“Nunca vamos saber o que aconteceu. Às vezes curiosidade, às vezes atrevimento”, diz instrutor.

“Eles iriam pra uma cidade lá do México onde tem pirâmides, eu não me lembro o nome do local, e depois não tive mais contato”, conta o pai de José.

“Eu falei para o meu filho: ‘Marcelo, passa uma mensagem para sua irmã para ela entrar em contato com a gente, porque já faz tanto tempo, ela não está dando notícia’”, conta a mãe de Renata.

Renata Quirino, médica. José Brugnaro Neto, engenheiro. Playa del Carmen, paraíso mexicano que remete a romance e mergulhos. Destino de José e Renata.

“Aventura mexicana” é o nome do hotel. Foi ali que começou a jornada do casal. Contrataram um guia de mergulho, Ismael Garcia Manzanares. Ele trabalhava temporariamente para uma agência. E lá alugaram os equipamentos.

Deixaram registrada a experiência no mar. Entre 50 e 55 mergulhos. Desta vez, José e Renata escolheram um mergulho diferente. A Península de Yucatan, no Golfo do México, está sobre vários rios.

Há alguns acessos para debaixo da terra – são os chamados “cenotes’. Permitem a passagem da luz e levam a um outro mundo. Isso para os mayas – que aqui chegaram primeiro. Para os turistas é a porta de entrada de um passeio em água doce e cristalina.

Fim da tarde de 19 de abril: José e Renata foram para o último mergulho do dia. Local: cenote de Chac Mool. Desceram às 16h.

“Às 17h30 deveriam estar de volta. Às 18h10 peço a um funcionário que vá ao cenote. Lá dizem que os mergulhadores já estavam voltando,” conta Álvaro Alamada, diretor da agência de mergulho. Mas ninguém apareceu. E Alvaro Alamada foi pessoalmente ao cenote.

“A primeira coisa que vi foi o carro deles. Pensei que eles estivessem passeando na selva à noite, sempre com a esperança de que estivessem bem. Quando olho para o dentro do carro vejo que falta equipamento de mergulho”, conta Alvaro.

Eles ainda estavam na água. O serviço de resgate foi acionado. E depois de quatro mergulhos os corpos foram encontrados.

Desde então Chac Mool está fechado para o público. Mas o Fantástico conseguiu autorização para entrar. Antes de fazer o último mergulho, os brasileiros desceram uma escada que leva até a caverna de Chac Mool. Quem vai apresentar o lugar é Fernando Prieto, o instrutor que resgatou os corpos.

“A regra mais importante é manter-se ao lado da linha”, diz o instrutor.

16h30. É praticamente o horário que o casal de brasileiros desceu na caverna.
E lá vai o repórter Rodrigo Bocardi, o cinegrafista Alberto Frisoni e dois guias, dois instrutores de mergulho. Luiz e Fernando – cada um deles com mais de 2 mil mergulhos neste mesmo local.

Cai a luz. Mas não acaba a visibilidade. As lanternas ajudam. E com elas enxergamos com toda clareza a corda guia amarela. Em poucos minutos estamos próximos de uma outra entrada da caverna. A luz do sol nos proporciona uma pintura.

Até ali um mergulho tranquilo. Não há correnteza. Às vezes a água fica salobra. Mas não nos tira a visão. No meio das rochas as estalactites. Elas são a atração deste mergulho. Em alguns pontos a corda amarela determina uma mudança radical de rota. Leva você a passar por lugares bonitos. E estreitos.

Na maior parte do mergulho você percebe a luz do sol vindo de algum canto. E a cada 60 metros, sempre há uma saída. Por isso, não é exigido dos mergulhadores um treinamento especial.

Depois de quarenta minutos já com o cilindro de ar pela metade vemos um largo túnel. E o guia alerta. Para lá, não. Siga a linha amarela. O casal de brasileiros e o guia espanhol não fizeram isto.

Eles tinham mergulhado em um ponto. Depois de completarem a volta, deveriam ter saído pelo mesmo lugar por onde entraram. Mas seguiram por uma caverna à esquerda e se perderam.

Vamos em frente, sem saber o que levou os brasileiros ao caminho proibido. Chac Mool está aberto aos turistas há 15 anos. Recebe 40 mergulhadores por dia. Ninguém tinha morrido ali.

Realmente a corda guia amarela que te dá segurança. Ela te traz para a saída da caverna. Em alguns pontos, lá dentro no meio da escuridão, fica fácil se perder se se afastar um pouco da corda. “Não se pode querer ir a lugares bonitos e abandonar a corda”, reafirma o instrutor.

E por que Renata, José e o guia se afastaram? A única certeza de Fernando é que o guia tentou dar ar para Renata. Ele diz isso por causa da posição em que foi encontrada a mangueira reserva do instrutor.

“Nunca vamos saber o que aconteceu. Às vezes curiosidade, às vezes atrevimento”, diz o instrutor. A investigação ainda não foi concluída. Mas para o Ministério Público foi um acidente. A notícia às duas famílias foi levada pela empresa onde José trabalhava.

“Foram até o depósito conversar com meu marido. Aí ele me abraçou e falou ‘nós não temos mais nossa filha’”, lembra a mãe de Renata.

A empresa cuida da liberação dos corpos, que continuam no IML de Playa del Carmen. Lá está também a bolsa que o casal deixou no carro. Dentro dela, a máquina… e as últimas fotos.

 

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