Brasileiro está entre os dez melhores professores do mundo

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Da: Veja

Diego Lima, diretor de uma escola municipal em São José do Rio Preto, participará de premiação em Dubai, em março. Ele reverteu violência e evasão escolar

*Diego Mahfouz Faria Lima, diretor da escola Darcy Ribeiro (//Reprodução)

Pelo segundo ano seguido, o Brasil tem um representante entre os dez melhores professores do mundo. O sul-mato-grossense Diego Mahfouz Faria Lima, de 30 anos, está entre os finalistas do prêmio Global Teacher Prize 2018, da Varkey Foudation, que recompensa com 1 milhão de dólares, pagos ao longo de dez anos, o melhor educador do planeta. Lima é o diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro, em São José do Rio Preto, a cerca de 440 quilômetros de São Paulo, cuja realidade de evasão escolar e violência ele reverteu nos últimos quatro anos.
Os nomes dos dez finalistas da honraria foram anunciados ontem pelo empresário e filantropo Bill Gates, fundador da Microsoft. O vencedor do prêmio, que leva em conta o aprendizado dos alunos, o uso de práticas inovadoras nas aulas e os benefícios revertidos pelo ensino à comunidade, será conhecido em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no dia 18 de março.
Nascido em Paranaíba (MS), o jovem educador se mudou para Rio Preto em 2002, aos 15 anos. A ideia da família era que a mãe dele, lutando contra um câncer, estivesse mais próxima da cidade de Barretos (SP), onde se submetia a tratamento duas vezes por semana, e não passasse mais infindáveis horas na estrada. Ela morreu no ano seguinte. “Sempre estudei em escola pública e minha mãe me cobrava para que eu estudasse. Exigia muito, não aceitava notas menores que sete, tinha horários para estudos”, lembra ele.
Quando perdeu a mãe, ainda no Ensino Médio, Diego Lima já cursava o segundo ano do magistério, que o atraiu com uma bolsa de estudos no valor de um salário mínimo. Com o pai desempregado, ele chegou a se alimentar apenas de fubá e água. “Nunca tive a pretensão de ser professor, mas gostava de estudar, precisava do salário e uni o útil ao agradável”, diz. A partir daí, terminou o segundo grau, graduou-se em Pedagogia e enfileirou três pós-graduações, nas áreas de tecnologias da educação, administração escolar e teorias e práticas pedagógicas.
Em 2014, aos 27 anos, Lima era o responsável pelo programa federal Mais Educação em uma escola da cidade, quando foi convidado a ser vice-diretor da diretoria da Darcy Ribeiro, localizada no Jardim Santo Antônio, bairro carente e violento. O colégio, que tem alunos do 6º ano ao 9º ano do Ensino Fundamental, era conhecido por casos de violência – em 2012, um jovem de 15 anos chegou a levar uma arma para dentro da sala de aula. Assim, não é de se espantar que pais evitassem a escola de nome tão inspirador e buscassem vagas aos filhos em unidades mais distantes, mesmo que a escolha significasse passar algumas horas em um ônibus.
Logo no primeiro dia de Diego Lima no novo trabalho, a diretora foi agredida por alunos e pediu para deixar o cargo. Coube a ele assumir a responsabilidade. “No primeiro dia em que fui me apresentar aos alunos, eles saíram de dentro dos banheiros com cartazes com escritos de ‘rebelião’, colocaram fogo nos banheiros, jogaram lixo em mim”, conta. A estratégia para ganhar a confiança dos jovens foi bater o pé, dizer que dali não sairia e que gostaria de ouvi-los.
As principais queixas recebidas por ele dos jovens foram as de que a escola “era muito feia” e mal conservada – havia ali até paredes com marcas de queimado – e que o sistema era muito punitivo – as suspensões, em uma média de 60 por semana, duravam até sete dias.
Logo de cara, o jovem diretor iniciou uma ação que pretendia pintar as paredes de algumas salas, mas terminou como um mutirão que renovou a pintura da escola inteira, graças ao material doado por comerciantes e à mão de obra de pais voluntários e alunos. As suspensões, que afastavam o jovem da escola, foram convertidas em medidas alternativas, como ajudar os funcionários na hora do recreio e na locação de livros da biblioteca.

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