Alunos da USP criam app para deficientes visuais

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Estudantes do IME-USP apresentam app Smart City Guide no Imagine Cup. FOTO: Bruna Guimarães/Divulgação
Estudantes do IME-USP apresentam app Smart City Guide no Imagine Cup. FOTO: Bruna Guimarães/Divulgação

ESTADÃO LINK – Segundo o IBGE, mais de 16 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência visual, o que implica algumas dificuldades na rotina, principalmente para se locomover pela cidade. Já existem algumas ferramentas facilitadoras, como GPS para cegos. Mas e um aplicativo de geolocalização no qual o mapeamento seja feito pela comunidade, de maneira colaborativa?

Essa foi a ideia de Renata Claro, Gabriel Reganati e Thiago Silva, que cursam o último ano do bacharelado em Ciência da Computação pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP). A criação rendeu aos estudantes o terceiro lugar na Imagine Cup, concurso de inovação promovido pela Microsoft, já na primeira participação de alunos do Instituto na competição.

O aplicativo, chamado Smart Audio City Guide, consiste em um sistema baseado em GPS e informações geolocalizadas provenientes de usuários da rede que queiram colaborar com o mapeamento. Qualquer pessoa que baixar o aplicativo pode enviar e receber informações sobre um local. E as informações previamente registradas são transmitidas via áudio quando o usuário passar por aquele determinado ponto conectado ao aplicativo.

Que tipo de informações? Podem ser avisos dos mais diversos: uma árvore, uma lombada, um buraco, um orelhão. Uma vez feita a gravação geolocalizada (um toque em qualquer parte da tela para gravar e outro para finalizar), toda a vez que alguém passar pelo mesmo local, será notificado por uma mensagem de voz.

“Uma troca de dicas para deficientes: essa é a ideia”, diz Thiago Silva. “A proposta é divulgar à comunidade para que possam colaborar”, deixando o mapeamento mais completo, diz ele.

 

As gravações poderão ser editadas caso ocorra uma mudança no local ou haja uma informação enganosa: “É uma rede colaborativa, como a Wikipedia, por exemplo; o esquema seria o mesmo: será possível editar uma marcação ou até mesmo denunciá-la. Como para participar os usuários deverão ser registrados, você poderá ser banido se gravar informações falsas que atrapalhem o usuário”, diz Renata Claro.

O aplicativo ainda não está disponível para download, mas o objetivo do grupo é liberá-lo até o fim deste ano . “É um protótipo que já funciona bem em um ambiente controlado, tivemos bons resultados nos testes que fizemos com deficientes. O problema é que o nosso servidor é limitado, podendo cair se muita gente utilizá-lo ao mesmo tempo”, aponta Thiago. “Mas já estamos trocando de servidor e buscando parcerias para deixá-lo em perfeitas condições de uso”, diz.

O app foi desenvolvido para Windows Phone, por ter sido preparado para a competição da Microsoft, fazendo uso de softwares providos pela companhia. “Nosso projeto é expandir para outras plataformas e sistemas operacionais, como Android e iOS”, diz Renata.

O grupo pretende fazer melhorias e implementar alguns serviços no aplicativo. “Queremos integrar os pontos para que, como se fosse um GPS, a pessoa possa fazer rotas e até localizar outros usuários ao redor”, diz Gabriel Reganati. “Às vezes, o deficiente visual tem dificuldades para fazer integração social; assim, o aplicativo facilitaria essa troca de mensagens”. Outra ideia é fazer mapeamentos internos, para que o usuário possa se localizar e circular em alguns ambientes, como museus, por meio do Wi-fi.

Construção de parcerias

Estudantes ficaram em terceiro lugar na competição promovida pela Microsoft. FOTO: Divulgação

Para essas expansões, o projeto precisa de parcerias. O grupo conta que já está estudando algumas possibilidades, como uma empresa que conheceram na Imagine Cup. Outra opção seria financiar o projeto com incentivo de empresas vinculadas a ONGs da área.

Há ainda a alternativa publicitária, não apenas no site do aplicativo, mas também através de notificações aos usuários quando estivessem próximos de alguma loja parceira que contasse com serviços de acessibilidade. “Mas tudo está muito em aberto ainda; estamos avaliando para achar a melhor solução”, diz Thiago.

Para desenvolver a proposta, o grupo manteve contato com alguns deficientes visuais, que deram sugestões como: mudança nos recursos sonoros utilizados para ficarem mais claros, tela com mais opções de ferramentas e possibilidade de personificação, uma vez que existem graus diferentes de deficiência visual – assim, uma mensagem útil para uma pessoa completamente cega pode ser inútil para outra que possui visão parcial. “Queremos implantar um sistema de feedback, também por reconhecimento de voz, para que as pessoas possam avaliar quais mensagens foram úteis e quais não”, diz Thiago.

A ideia inicial foi do professor Artur Rozestraten, do Departamento de Tecnologia da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU). “As origens da proposta enraízam-se nos estudos realizados pelo Grupo dos Tridimensionais, na FAU, sob a orientação dos professores Julio Katinsky, Luiz Munari e Maria Cecília França Lourenço, entre 1996 e 1998, para a confecção de maquetes para cegos”, diz o docente. ”Tais estudos conduziram ao contato com iniciativas desenvolvidas na Fundação Dorina Nowill, assim como à experiência desenvolvida na Fundação São Rafael, em Belo Horizonte, também nos anos 1990, com maquetes físicas de amparo à orientação e mobilidade urbana de deficientes visuais”, conta ele.

O contato com os alunos do IME nasceu de sua parceria com outro docente, o professor Marco Gerosa. Ambos trabalham juntos no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Ambientes Colaborativos na Web (NAWEB). Assim, após a exposição no Instituto e o anúncio da Imagine Cup, os alunos decidiram em fevereiro desenvolver o projeto, sob a coordenação de Gerosa. “Fiz o acompanhamento geral: reuniões para ajustes, discussões relacionadas a tecnologia, auxílio nas documentações e dicas para a apresentação”, disse o professor, uma vez que a bancada congregava de especialistas em computação a executivos.

Imagine Cup

A competição promovida pela Microsoft aconteceu em Brasília, no dia 3 de maio, da qual participaram as cinco equipes brasileiras finalistas dentre as 81 que se inscreveram. Nenhum estudante do IME havia participado da disputa anteriormente. O grupo, que levou o terceiro lugar na categoria ‘Design de Software’, disse ter ficado surpreso com a conquista, afirmando ter sido uma grande oportunidade. “Foi ótimo, pois tivemos contato com vários executivos e especialistas, que nos deram várias dicas. Foi um grande aprendizado”, conclui Renata.

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